quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O humor contemporâneo português

Falando-vos do humor; especialmente o humor em Portugal, coisa que por vezes me apraz até bastante, não por ser nacionalista, mas por ser grande fã do humor e reconhecendo que algum humor português está à altura de muitos "Monty Pythons", muitos "The Offices", muitos "Alô Alôs" etc.
Não posso deixar, de fazer um breve resumo daquilo que demais importante se passou com o humor em Portugal nos últimos tempos, podendo assim chegar onde quero: temos então a boa da revista á Portuguesa, coisa que não dispenso, pois não me afasto dalgumas raízes populares; a anedota tão antiga, coisa que não me satisfaz assim tanto pois não acho graça à graça quando forçada. Os sketches, coisa importada e adaptada para um formato mais português, que começa na altura de Francisco Nicholson e Armando Cortez com "Riso e Ritmo", um programa da RTP dos anos 50 em que os dois tão conceituados actores, faziam sketches a um ritmo rápido, eficaz e natural, coisa que preparava o público àquilo que viria uns anos mais tarde com Raul Solnado em ZipZip, em que este e os seus colegas (Fialho Gouveia e Carlos Cruz) não só montavam sketches ao vivo como começariam em Portugal um formato completamente novo, o "stand-up comedy", nome que na altura era completamente desconhecido, chamando-se só então, "piada em pé"; Raul Solnado, o actor do programa por excelência, punha-se então à frente de um microfone e contava histórias de personagens irreais, como a tão famosa "Guerra de 1908", "A história da minha vida" etc.
A altura dos sketches não teria morrido, pois um pouco mais tarde apareceria por via de Nicolau Breyner, um dos melhores humoristas portugueses, Herman José, que se estreou na comédia em "Nicolau no país das maravilhas", viria mais tarde à berlinda, liderando um fantástico elenco de actores, com "O tal canal", que segundo o que soube era para se chamar "O terceiro canal". Herman, criou notáveis personagens que ainda hoje não esqueçemos, ou não me digam que já esqueceram a Marilu, ou a Maximiana ou mesmo o Tony Silva? Não só notáveis personagens criou o "verdadeiro artista" mas também se tornou campeão de bordões. "Não havia nexexidade", "Letslookatatrailer", "eu é que sou o presidente da junta" ou "Eu é mais bolos" são só alguns dos muitos bordões de Herman. Pessoalmente a melhor série de Herman foi "Casino Royal" em que Herman (Artur Royal) e a sua equipa vivia num pobre casino lisboeta durante a II Guerra Mundial em que os únicos clientes, pareciam ser espiões que por sinal eram extremamente incompetentes. Herman viera para instaurar definitivamente o humor non-sense no país que, até aí nunca tinha sido muito utilizado. A partir daí começaria toda uma nova geração de humoristas, a geração que alguns chamam "A geração Herman".
Começamos então com pessoas como Nilton, Nuno Markl, Bruno Nogueira, Maria Rueff(anteriormente actriz da equipa-Herman) e não esqueçendo os Gato Fedorento e aqueles que são o alvo deste artigo que vos escrevo, "Os contemporâneos".
Pois é, Os contemporâneos, senhoras e senhores. Na minha opinião conseguiram ser melhores que os Gato Fedorento. Dotados de uma inteligência como não há muitas, um sentido de humor altamente negro e corrosivo e uma grande capacidade de trabalhar com poucos meios. Nota-se a sua influência do humor anglo-saxónico (Monty Python) e a sua influência hermaniesca, devido à sua tendência para asnear.
Já causaram polémica devido a alguns sketches ou possíveis tiradas por parte dos actores, nomeadamente de Nuno Lopes (actor fabuloso!) ao interpretar o papel do "Chato"; um deficiente (mental?) que nada faz na vida a não ser mandar as "pessoas normais" (como o próprio refere) trabalhar. Algumas pessoas acham-no um "gozo aos deficientes", pois eu acho-o o personagem perfeito para algumas personagens bem reais da nossa sociedade, que são "deficientes" (em sentido figurado) ao ponto de nada fazerem na vida a não ser reclamar. Não falo só no caso de Portugal pois idiotas há em todo o lado e no fundo somos todos um pouco idiotas mas, há que saber distinguir os mais idiotas dos menos idiotas e acreditem, caros leitores, há bastante gente MUITO idiota. Ao ver o "Chato" penso que todos os espectadores deveriam olhar para a personagem, não como um gozo mas como uma crítica divertida e crua a todos nós, assim, talvez possamos olhar para nós e para os outros de uma maneira menos arrogante e generalista.
Outro dos melhores sketches dos contemporâneos é de facto o do "gay GLS", em que, mais uma vez, Nuno Lopes, interpreta o papel de um recepcionista brasileiro homosexual dum hotel lisboeta. Certo dia, entra um casal e pergunta-lhe, qual o melhor sitío para sair à noite e com um ar carente tentando chamar à atenção do homem deste casal, este responde que não há nenhum sitío na cidade a não ser uma discoteca GLS (segundo ele: Gay, Lésbica e Simpatizante), em que este afirma frequentar mas apenas como simpatizante (ele é nitidamente bicha).
O que é certo, meus amigos, é que este grupo de jovens e promissores actores\humoristas, são dos melhores grupos cómicos que já vi. Posso evidenciar os que penso serem os melhores do grupo: Nuno Lopes, Manuel Marques e Bruno Nogueira.
Os contemporâneos são um olhar cru, bem disposto e atento da sociedade, passando pelos diversos parâmetros desta.